domingo, 15 de novembro de 2009

O Par

Tentemos, então, algo em português.
Banda dona de ótimos riffs e de um site fantástico, os cariocas do Moptop chegam com a música Bom Par.

Seu navegador não suporta o vídeo.

O Par

Terça-feira. Noite fria. Sujeito, com seus vinte e muitos anos, sai de um boteco qualquer. Vinte e uma, no relógio. Bebera desde as quinze, quando fugiu do escritório alegando enxaqueca. Bebeu para afogar as mágoas do fora que tomou, da linda e jovem namorada universitária, no último sábado. “Adoro você, mas não o amo mais”. As palavras ainda ressoavam em sua cabeça. Escorando-se pelas paredes, a fina garoa na cabeça, ele chega ao ponto de ônibus. Pega um qualquer, que esteja vazio, apenas para fugir dali. Senta-se e coloca os fones no ouvido, mas, de tão bebado, não consegue escolher nenhuma música. A chuva, lá fora, aperta forte, promentendo lavar as almas dos indignos, como ele. Ele fecha os olhos. Revê, mentalmente, os bons momentos vividos ao lado da amada, que nunca mais terá para si, e os erros com ela cometidos, e que a fez dele se escapar. O semáforo acende a luz vermelha. O ônibus para. Um raio explode do lado de fora, iluminando a rua. Num susto, ele olha pela janela. O sinal se abre. Passam por um pub com largas janelas de vidro. Ele, então, vê, em uma das mesas, rodeada por amigos e amigas que riem e se divertem, aquela que o faz sofrer por amor. A bala lhe acerta em cheio o coração. Ainda cambaleando, consegue descer do ônibus no próximo ponto. Ele ergue a gola do blaser para melhor se proteger da chuva e do frio. Caminha tropego pela calçada, chutando, com seu All-Star, as poças d’água que a chuva formou, até chegar à janela do pub. Olha para dentro do bar. Lá está ela, ao fundo. Ri, como se ele nunca tivesse existido. A chuva vira diluvio e o lava por completo. Ele não sente. Está anestesiado pela dor e por seus erros. Não sabe se o que lhe escorre pela face é chuva ou lágrimas. Outro raio. Mais claro que o anterior, mais sonoro, ainda. Desanimado, ele estremece. Ela, mesmo de dentro do pub, assusta-se com o estrondo. Olha para fora, pela janela, mas não o vê. Ele já está invisível para ela. Ou sempre o fora. O CD, aqui.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Aproveite para deixar alguma sugestão musical